Para o que der e vier !!




Christy Turlington e Linda Evangelista para a British Vogue, Maio de 1990

Há umas semanas, quando comprei a VOGUE do mês de Agosto, li um artigo muito interessante sobre a existência de melhores amigas nos dias que correm, da jornalista Rosário Mello e Castro, cujo título era "Para o que der e vier!", que me fez reflectir e ver o quão importante são as amizades que tenho na minha vida.

Reservada e desconfiada, nunca fui pessoa de cultivar muitas amizades. Tive sempre bem ciente a diferença entre amigos e conhecidos e, por isso, preferi ter sempre poucos amigos em quem podia confiar incondicionalmente, do que ter muitos, de qualidade tão fraca que facilmente os poderíamos comparar a qualquer artigo comprado na loja do chinês.
Mas não se iludam, também cai na esparrela dos falsos amigos. Esses são os piores. Imagine as imitações baratas das Speedy, da Louis Vuitton, que circulam nos braços de meio mundo: imaculadas e perfeitas à primeira vista, arrebatam-nos o coração e dão-nos uma vontade dos diabos de as trazermos connosco para casa. Porém, com o tempo e as intempéries da vida, acabam por se desgastar, ou é uma asa que salta ou o padrão que se esfola. Então, com muita pena, lá vamos nós, de coração apertadinho, colocá-las no lixo e prometer que nunca mais damos um chavo por outra daquelas. E como é duro colocar uma amizade no lixo …É por isso que mais vale investir todas as nossas economias numa Speedy verdadeira e saber que durará uma vida. É certo que dá mais trabalho, ocupa mais tempo e pede o dobro da dedicação, mas no final compensa-nos: dá-nos alegrias e afaga-nos o ego.
E a amizade é isto. Um investimento, de tempo e carinho, que fazemos noutra pessoa. Contudo, como qualquer investimento, exige que estejamos atentos e de olhos bem abertos, porque se nos pode dar lucros imensos, também pode ir por água abaixo e causar o maior prejuízo das nossas vidas.

Não a empato mais, deixo-lhe um excerto de umtexto do Miguel Esteves Cardoso, que muito bem expressa a minha concepção de amizade verdadeira:
 
« Não se pode ter muitos amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor: nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da alma ...
e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar — todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas. Não chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso saber partilhar o que temos com eles e não se pode dividir uma coisa já de si pequena (nós) por muitas pessoas.
Os amigos, como acontece com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter tempo nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta, mas esse é um dos custos da amizade. O que é bom sai caro. A tendência automática é para ter um máximo de amigos ou mesmo ser amigo de toda a gente. Trata-se de uma espécie de promiscuidade, para não dizer a pior. Não se pode ser amigo de todas as pessoas de que se gosta. Às vezes, para se ser amigo de alguém, chega a ser preciso ser-se inimigo de quem se gosta. »


Miguel Esteves Cardoso, in Os Meus Problemas

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